Em pleno século XXI, o Brasil
está passando por um momento extremamente delicado, difícil, conturbado e
turbulento, entre: Supremo Tribunal Federal, Procuradoria Geral da República,
Executivo e Legislativo. O interesse público deu lugar aos interesses pessoais
que se deixam quase sempre levar pelo egoísmo. Invertem-se os valores e instala-se a crise!
E nesse clima de instabilidade
entre os Poderes que o Brasil vai sendo tomado pelo avanço do novo
Coronavírus, cujos casos confirmados no país chegaram a números exorbitantes: 443.876,
enquanto as mortes pela Covid-19 atingiram 26.901 vítimas.
Não é, portanto, de surpreender a
instalação da crise ética e política na qual estamos mergulhados. Devido a tudo isso, deixo o texto
visionário de Rui Barbosa, único professor de democracia que realmente tivemos
no Brasil. Seu legado permanece atual, cabendo destacar sua atuação em prol da
criação do espaço público democrático em nosso país. Então vejamos:
CREDO POLITICO por Rui Barbosa
"MEU PAÍS CONHECE O MEU CREDO
POLÍTICO, PORQUE O MEU credo político está na minha vida inteira. Creio na
liberdade onipotente, criadora das nações robustas; creio na lei, emanação
dela, o seu órgão capital, a primeira das suas necessidades; creio que, neste
regímen, não há poderes soberanos, e soberano é só o direito, interpretado
pelos tribunais; creio que a própria soberania popular necessita de limites, e
que esses limites vêm a ser as suas Constituições, por ela mesma criadas, nas
suas horas de inspiração jurídica, em garantia contra os seus impulsos de
paixão desordenada; creio que a República decai, porque se deixou estragar
confiando-se ao regímen da força; creio que a Federação perecerá, se continuar
a não saber acatar e elevar a justiça; porque da justiça nasce a confiança, da
confiança a tranqüilidade, da tranqüilidade o trabalho, do trabalho a produção,
da produção o crédito, do crédito a opulência, da opulência a respeitabilidade,
a duração, o vigor; creio no governo do povo pelo povo; creio, porém, que o
governo do povo pelo povo tem a base da sua legitimidade na cultura da
inteligência nacional pelo desenvolvimento nacional do ensino, para o qual as
maiores liberalidades do tesouro constituíram sempre o mais reprodutivo emprego
da riqueza pública; creio na tribuna sem fúrias e na imprensa sem restrições,
porque creio no poder da razão e da verdade; creio na moderação e na tolerância, no
progresso e na tradição, no respeito e na disciplina, na impotência fatal dos
incompetentes e no valor insuprível das capacidades".
"Rejeito as doutrinas de
arbítrio; abomino as ditaduras de todo o gênero, militares ou científicas,
coroadas ou populares; detesto os estados de sítio, as suspensões de garantias,
as razões de Estado, as leis de salvação pública; odeio as combinações
hipócritas do absolutismo dissimulado sob as formas democráticas e
republicanas; oponho-me aos governos de seita, aos governos de facção, aos
governos de ignorância; e, quando esta se traduz pela abolição geral das
grandes instituições docentes, isto é, pela hostilidade radical à inteligência
do País nos focos mais altos da sua cultura, a estúpida selvageria dessa
fórmula administrativa impressiona-me como o bramir de um oceano de barbaria
ameaçando as fronteiras de nossa nacionalidade".