Na política a traição é ingrediente indispensável, diria mais que natural. E o perdão vem na mesma proporção. Chega a ser comovente a capacidade de perdoar de alguns políticos. Eu poderia listar aqui dezenas de casos recentes em nossa cidade, mais tomaria todo o espaço deste artigo.
O perdão, repito, é um ato sublime, mas o verdadeiro perdão nunca quer nada em troca. Portanto, em nada se parece com o perdão político, que sempre busca o ganho pessoal. O perdão da política é mesmo pra quem gosta de “engolir sapo e fingir que estar gostando” e não mede esforços para atingir o objetivo desejado. Normalmente, vencer uma eleição. Depois da eleição, a depender do resultado, mais perdões ou mais traições.
Certo dia um colega de trabalho me falou essa frase: “Na política o charme é trair”
Confesso que fiquei indignado com essa colocação, pois na minha mente, política é a busca por um consenso para a convivência pacífica em comunidade. Por isso, ela é necessária porque vivemos em sociedade e porque nem todos os seus membros pensam igual. Em seu livro “Política” o filósofo Aristóteles foi um dos primeiros a definir a política como um meio para alcançar a felicidade dos cidadãos. O sociólogo Max Weber definiu a política como aspiração para chegar ao poder dentro mesmo Estado entre distintos grupos de homens que o compõem.
Com o passar do tempo fui percebendo que meu colega tinha lá suas razões, a minha ideia continua a mesma, mas anos a fio temos presenciado atitudes que justificam perfeitamente a frase dita.
Na verdade os candidatos, quando eleitos, evidenciam e preservam
esse elemento clássico das relações de poder: o signo da traição na política e
como num toque de mágica desenvolvem a capacidade de converter supostos
compromissos em meros joguetes de palavras.
Como já disse Arturo Graf: “Com grande frequência,
a política consiste na arte de trair interesses reais e legítimos e de criar outros,
imaginários e injustos”.
Pensamento semelhante expresso no filme A Rainha Margot, quando
o personagem do filme soltou a frase: “Que é a traição? A
habilidade de se adaptar aos acontecimentos”.
Leonel
Brizola, disse ao ex-governador Dante de Oliveira que “a
política ama a traição, mais abomina o traidor”, quando Dante se
aproximou do Ex-presidente da República Fernando Henrique e já estava de malas
prontas para trocar o PDT pelo PSDB.
A velha frase proferida por Brizola: “A política ama a traição, mas abomina o traidor” merece ressalvas, pois muitos traidores prosperam por uma vida inteira ainda que tenham que conviver com a pecha.
Hoje, torço para que essas ações sejam exceções e não regra
geral. Pois só assim podemos conservar a motivação para fazer política, de
situação ou oposição, e pensar no bem estar coletivo e comum.