Há muito tempo, não é segredo para ninguém que a cidade de Paraty é hoje uma das mais violentas do Estado. Os meios de comunicação se encarregam de dar os números dos assassinatos e furtos que crescem a cada dia.
A violência que assola
a cidade do Rio, com várias vítimas de “bala perdida” chegou a Paraty.
Recentemente, 27/11/2017, após tentativa de assalto a loja das Casas Bahia, com
perseguição aos assaltantes, foi vítima de bala perdida o adolescente Tovick
Coelho, estudante de 16anos, que estava a caminho da escola.
Na madrugada de
domingo da mesma semana mais três pessoas foram baleada em frente à Boate The
Secret Club, sendo dois policiais e um funcionário da boate, a menos de 300
metros do DPO e da Delegacia de Polícia Civil. E para completar a semana mais
uma vítima foi morta por arma de fogo na localidade da Várzea do Corumbê.
A violência é
contagiosa continua crescendo, existe, no entanto uma violência mais perigosa, que é a de considerá-la parte da vida dos
cidadãos, quase sem assombro, até com resignação. “Só espero que este
sentimento de apatia não chegue até mim”.
Há, no entanto,
uma violência ainda pior: que nos acostumemos a conviver com ela como se fosse
uma fatalidade.
Há cerca de um
mês atrás conversava eu sobre o assunto “violência e falta de segurança” com um
paratiense amigo meu. Ele me dizia: “É que a gente é assim mesmo. Para esquecer
não só da violência, mas também de tanta corrupção política, a gente se esconde
em nossas cervejas e churrascos”. O meu amigo sabia, no entanto, que em outros
países, como a Argentina, as pessoas sabem protestar mais. “Aqui não estamos
acostumados” a ir para rua reclamar do que está errado, como foi o caso da
manifestação que aconteceu no sábado na Praça do Chafariz, onde poucas pessoas
atenderam a convocação para protestar sobre a morte do estudante Tovich Coelho.
É isso o que no
fim leva os responsáveis pela defesa da vida dos cidadãos a também ver a
violência como algo normal ou difícil de solucionar. São eles, no entanto, os
que deveriam estar na primeira fila, para garantir aos munícipes o poder de
levar uma vida normal sem ter de sair às ruas obcecados pelo que possa lhes
acontecer. Eles só vão despertar para o que está acontecendo em Paraty, quando
acontecer algo de mais grave a alguém ligado a eles ou até mesmo a alguma
autoridade.
O ser humano é
um animal de hábitos. Adapta-se a tudo no esforço de sobreviver. E, no entanto,
há momentos na vida e na história de um país ou de uma cidade em que justamente
o modo de sobreviver sem ser ameaçado pela espada de Dâmocles da violência, que
se espalha como lepra. “É se mexer, reagir para não se acostumar com ela”.
Cabe neste
espaço uma explicação sobre a Espada de Dâmocles.
A lenda
da espada de Dâmocles, nascida na história da Grécia há 2400 anos. É uma
metáfora do perigo que se corre na busca do poder, que foi recolhida pelo
escritor Ovidio.
Dâmocles era membro da corte do rei Dionísio,
um tirano sanguinário de Siracusa, na Sicília. Era um adulador e invejoso do
rei, tanto que este quis se vingar.
Ofereceu-lhe ser rei por uma noite, com os
luxos e prazeres e orgias que ele desfrutava em sua corte. Ébrio, aceitou.
Quando estava no meio da glória que havia sonhado, seu sangue gelou ao ver
pendendo sobre sua cabeça uma espada afiada, suspensa apenas por um fino fio de
crina de cavalo. Assustado, fugiu, enquanto o rei lembrou-lhe: “Essa espada
também pende todos os dias sobre a minha cabeça”.
É o perigo ao qual está exposto o poder, e
o tributo pago por sua busca a qualquer preço.
No Brasil, muitos chegam à política não com
o desejo sincero de servir o país, da entrega vocacional para o bem comum, mas
com a esperança de poder desfrutar da orgia de privilégios e enriquecimento dos
imperadores da antiguidade.